terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Zé Brejeiro.

Zé Brejeiro


Entre tantos países no mundo, Deus sem dúvidas escolheu o Brasil para derramar a sua glória. Digo isto baseado no caso que a partir deste momento contarei para você.
Numa das favelas do Rio de Janeiro, num dia de muito tiroteio entre policiais e traficantes, Zé Brejeiro e Ana Garrafa doavam-se loucamente em um amor que chegava a ser animal. Eles estavam tão empolgados com o namoro que nem ouviam os estampidos das trassantes que vazavam janelas e retiravam o reboco das paredes que lhes serviam de proteção e ninho.
Daquele tremendo amasso, nasceu José Edmundo Vasconcelos, Zé Brasil, para a galera. Aos quatro meses de idade, ganhou um presente que lhe seria o mais valioso de sua vida. Uma bola de couro oficial, que seu pai encontrara numa de suas idas a cidade. Zé Brejeiro não tinha dinheiro para pagar nem a compra do mês ou as contas que se acumulavam sobre a mesa da televisão preto e branca que havia ganhado do último patrão que tivera a quase um ano passado. Quanto mais duzentos e quarenta e três reais para pagar por uma bola nova e ainda por cima, oficial.
Todo mundo sabia pelo menos de uma coisa, roubar aquela bola com certeza, ele não havia roubado. Podia morar na favela, estar desempregado, ser preto, mas ladrão, isso ele não era! Aliás, ele vivia falando com a turma do tráfico que já estava cansado de ver três coisas: O mengão perder, sua dispensa vazia e o povo dizendo que na favela só morava marginal, maconheiro e traficante. Ele era um homem de bem e não ficava nem um pouco satisfeito de estar naquela situação. Seu filho já tinha nascido e logo seria um homem, ele precisa resolver a sua vida e dar um futuro melhor pro moleque.
Um dia Zé Brejeiro viu no jornal de um cara no ônibus, enquanto procurava emprego, que estavam precisando de gente para trabalhar na reforma do Maracanã e ele tinha um sonho antigo, queria jogar nem que seja um pouquinho no gramado do maracá. Correu para lá e fez sua inscrição. O interessante é que ele não foi discriminado, foi bem tratado, a firma que havia assumido a obra era norueguesa e ele era chamado para tudo lá, passando a ser conhecido como Zé pra tudo.
Um dia, quando o pessoal estava descansando o almoço, Zé pegou a bola do filho que havia levado e estimulou a galera para jogar uma partidinha enquanto a sirene não tocava.
__ Vamo pessoal. Us gringu gosta de vê nos joga. Seu português não era lá essas coisas, mas do alto de seus um metros e noventa e oito, com cento e quarenta e quatro quilos, quem iria chamar a atenção para o jeito que aquele negão falava?
Os gringos pararam de comer, foram para a beira do gramado e começaram a olhar aquela máquina de futebol jogando. Apesar do tamanho, ele tinha muita habilidade e um chute que botava medo em qualquer um a sua frente.
Os gringos cochicharam, confabularam e finalmente chegaram para o Zé e disseram:
__Zé, nós querer levar você com sua família para jogar no Noruega. Nós pagar muito e você poder ir hoje mesmo. Ele pensou, fechou os olhos, viu seu filho com a bola nova correndo pelos gramados noruegueses, respirou fundo, sonhou, sonhou e sonhou.
Em seu sonho, ele dizia: __ Vou tirar meu filho da favela, vou virar gente e ter vida de gente! Meu filho vai ser chamado de Zé Brasil! Vou ouvir os narradores brasileiros falando o nome dele quando sair a escalação do Brasil. Dida, Roberto Carlos, Lúcio, Zé Brasil, Ronaldinho Gaúcho... To sonhando, to sonhando, ninguém me acorda.
Enquanto ele delirava com aquela notícia maravilhosa, alguém bateu em seu ombro e chamou insistentemente. __ Moço, moço! Chegamos no ponto final e o senhor acabou passando de seu ponto. Tem que descer aqui e pagar outra passagem se quiser voltar.
Quando Zé Brejeiro abriu os olhos, todo babado de tanto roncar, levantou sua cabeça e viu que tudo não passara de um sonho e que na realidade, ele continuava desempregado e não havia empresa norueguesa nenhuma e nem ao menos obra no Maracanã.
As únicas coisas que continuavam certas em todas as que aconteceram é que o Flamengo realmente continuava perdendo, ele continuava morando na favela, os jornais continuavam discriminando os moradores de lá e pra sua felicidade, seu filho já começava a dar os primeiros passos e chutar a bola que ele lhe havia dado.
Ele bateu a poeira e falou bem alto para todo mundo ouvir: __ Não tem problema não, um dia, eu vou poder ver meu filho no Maracanã jogando e sendo aplaudido como um craque e aí então, vou realizar meu sonho e ser feliz, mas até que isso aconteça me deixa continuar procurando emprego, pois o leite do guri, não pode esperar.
Lembre-se de uma coisa:
Na vida, só os que desistem é que nunca terão o direito de sonhar.






Walber Nunes

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